5 de dezembro de 2005

Educação

EDUCAÇÃO É MAIS DO QUE ESTAR NA ESCOLA

Muito se fala sobre a educação e o seu papel no desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Os governos têm se preocupado em priorizá-la por meio de diferentes objetivos. Mas, que tipo de ações educacionais implementaram: qualitativas ou quantitativas?
Acordos com a Organização das Nações Unidas (ONU) prevêem a erradicação do analfabetismo, a qualidade no ensino e o fim da evasão escolar. São metas louváveis. Porém, o Brasil está longe de atingir esses objetivos, uma vez que – as ações não visam à educação das crianças e adolescentes, mas, sua escolarização.
Segundo o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), em sua página eletrônica, houve cerca de 34 milhões de matrículas no ensino fundamental em 2004 e 10 milhões no ensino médio regular, com apenas 676 mil no nível técnico. O número dos que ingressam no ensino fundamental é considerável; porém, muitos não concluem o ensino médio. As vagas nas escolas técnicas são insuficientes para a demanda de alunos que concluem o ensino fundamental. Grande parte dos que não tiveram uma formação técnica encontra maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho. A escola deveria ser o lugar onde os alunos aprendessem uma profissão, a relacionar-se com os outros e preparar-se para a vida adulta; pois, além da função pedagógica, a escola tem essa função social.
Não faz muito, havia aulas de música, filosofia e oficinas profissionalizantes nas escolas de ensino regular, para citar alguns exemplos. Em um mundo tão racionalista e violento, a música traria bons sentimentos para o jovem; conhecer uma profissão lhe daria a auto-estima e a segurança necessária para enfrentar desafios; e, ao refletir sobre o mundo em que vive, encontraria respostas às suas questões, ou o caminho para elas. Talvez, o custo desse tipo de escolas seria insignificante, perto das possibilidades futuras, porque além de diminuir o analfabetismo, resolver-se-iam muitos problemas sociais como a falta de oportunidades e a violência desmedida.
Quanto ao número de matrículas, não pode ser interpretado como pessoas alfabetizadas por não representar a realidade da educação no Brasil. Hoje, é possível verificar um sem número de adultos que são analfabetos funcionais, lêem sem entender plenamente os significados e têm sua vida social prejudicada. Segundo estudos do INEP, a leitura dos alunos brasileiros é deficiente. Os dados constam no relatório do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), encontrado na página do INEP.
No relatório global Educação para Todos, divulgado em novembro de 2005 pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o Brasil é comparado a países como Hungria e Polônia, quanto aos alunos matriculados; quando a qualidade de ensino é o parâmetro, o Brasil equipara-se a Zâmbia e Senegal. Para um país em desenvolvimento, é muito pouco. Países mais pobres, como o Chile, investem mais em educação e são comparáveis à Espanha e à Coréia do Sul, por exemplo.
Pode-se afirmar que, no Brasil, há uma preocupação maior com o número de pessoas estudando do que com a qualidade do ensino. Além disso, a família – tão carente de instrução quanto os filhos – não pode contribuir de modo significativo na educação formal dos seus, deixando aos governos toda a responsabilidade pelo ensino. Não basta priorizar a escolarização, mas a educação. Existem bons exemplos a serem seguidos. Imprimir qualidade ao ensino é o que se deve fazer para que as crianças de hoje vivam em uma sociedade mais esperançosa, igualitária e humana, no amanhã.