30 de setembro de 2005

Momento Poético

VITÓRIA

A glória almejada
Mas que nem sempre alcançada é
Ainda assim, com esperança e fé
O inabalável atleta luta
Sem acreditar que escrito está o seu destino
Supera adversidades com semblante erguido
Busca, no pódio, a posição vertical
E completar seus anseios
De batalha sem igual

Da força à técnica perfeita
Cada ação é calculada
Muitas vezes
Pois nada dura para sempre
Nesta vida imperfeita

A esperança não pode morrer
Nada é impossível
Basta querer
E não há fantasia que não se possa tornar real
Há pontes invisíveis entre o concreto e o surreal

Vitória é conquista
Ao alcance das mãos
Ou longe de vista
Mas quando há conquista
Que de rara beleza é
Tudo são sorrisos, tudo é festa, tudo é
E a felicidade não vai embora
Mas se solidifica, se incorpora
Ao viver do que a possui
Para sempre, a vitória

21 de setembro de 2005

Um Motivo Para Ser Melhor

Todos sabem que um casal tem lá as suas briguinhas, seus desarranjos, suas discussões e opiniões que divergem. Todo casal tem suas diferenças e afinidades, que se mostram no dia-a-dia, entre as quatro sagradas paredes do lar. Embora nossa sociedade esteja, a cada dia que passa, colocando o casamento como algo ultrapassado, antiquado e retrógrado, ele continua a ser a célula mãe de qualquer sociedade. O refúgio das intempéries, da violência urbana e dos perigos do reino animal. Ou quase isso.
Após o almoço, (aquele almoço de domingo na casa da sogra) o cara chega em casa com a esposa e vai logo se atirando no sofá, folgado. Todo casal sem filhos acaba por adotar um substituto que supra tal ausência. Algumas vezes é uma coleção de livros antigos; outras tantas, plantas; e há os que se curvam diante da tecnologia. Não obstante, o que mais acontece é a presença, sempre dependente, do cão. Ele pode até ser o melhor amigo do homem, mas nunca conheci um amigo tão dependente para tudo. Minha Nossa!
Uma das tarefas do Lindalvo era justamente alimentar o cachorro que a Feliciana tinha antes que eles se casassem. Naquele domingo, naquele sofá, o Lindalvo já havia discutido com a Feliciana por algum motivo do qual já não me lembro. Quando a esposa pediu que ele colocasse a comida no pratinho do pimpolho, que vivia na parte dos fundos da casa, o cara já esbravejou por não ter direito de desfrutar de sua soneca dominical pós-almoço na sogra. Ainda assim, foi.
Pensando em seu sofá e no cochilo interrompido, ao qual poderia voltar após a árdua tarefa, o marido abriu a porta dos fundos, desceu as escadas e quando se aproximava do prato do Platão (o cão de Feliciana) se surpreendeu com o que viu. Um pequeno rato, cinza, deitado lateralmente e com a boca aberta. Estava morto. Como teria parado ali? Bem, não era hora de indagações e nem de raciocínio investigativo. O sofá aguardava, já frio, o seu retorno aos braços aconchegantes. Assim, Lindalvo se apressou e logo voltava ao seu cochilo dominical, como de costume. Como se nada houvesse acontecido.
Lindalvo não era, por assim dizer, um homem preguiçoso. Ele trabalhava à noite, em uma fábrica de cosméticos. E quando a tarde caiu ele foi para mais um dia, ou melhor, noite de trabalho na firma. Como não estava em casa à noite, naturalmente, era a Feliciana que alimentava o Platão. Ela desceu as escadas, por volta das 9 da noite. Quando viu o defunto, o qual ele já tinha visto, não sabia se gritava, se corria, se largava a tigela com a comida ou se desmaiava. Quase aconteceu a última opção. Mas como todas as mulheres, que além de sentimentalistas são facilmente enojadas por algo que lhes traga repulsa, decidiu que colocaria no prato a comida do cão e subiria o mais rápido que pudesse para a casa.
Telefonou para sua mãe, que morava na mesma rua. Ela veio apressadamente e procurou acalmar a filha. E foi ela quem tirou o rato do quintal, dizendo que estava já duro. Dormiu com a filha naquela noite mórbida e escura.
Quando Lindalvo retornou do trabalho encontrou a casa limpa e desinfetada. Cortinas no varal, tapetes no muro, frestas de portas tampadas; eram apenas 8 e meia da manhã. Ao tentar entender o que acontecia foi interrompido pelo relato de Feliciana. Ela lhe contou tudo o que havia passado na noite anterior, nos mínimos detalhes, como é de praxe nas falas das mulheres. Fingindo estar espantado com a aterradora notícia, Lindalvo quase foi surpreendido quando Feliciana procurou saber se ele não tinha visto o rato um dia antes, ao servir Platão. Um "não" meio que tímido lhe saiu dos lábios ressequidos de preocupação.
Ela explicou-lhe que acordara cedo, pondo-se ao trabalho de eliminar qualquer possibilidade de que outros ratos invadissem seu quintal, ou a casa. Ela lavara os cômodos, o que era evidente pelo piso ainda úmido e escorregadio. Lindalvo dizia que, provavelmente, vizinhos mal intencionados poderiam ter jogado o pequeno roedor ali. Ele sabia que Feliciana mantinha a casa sempre limpa. Mas naquela manhã, um pensamento não lhe deixava, por mais que tivesse dó da pobre esposa: "Às vezes um rato morto pode ser útil na lida do lar!"

12 de setembro de 2005

O AMIGO DA ONÇA



Naquela manhã, na sala de aula, os alunos estavam já cansados do ritmo frenético com o qual a professora ditava o texto. Mas o pior não era isso, mas a sisudez da megera. Quem ousaria quebrar aquela rigidez estampada em seu rosto? Ela quer nos matar! – pensava um aluno. Quem ela pensa que é para ditar tão rápido? – outro. Agora entendo o que é ditadura, e por que isso foi tão ruim! – um terceiro. Embora todos pensassem algo negativo sobre a ditadora, ou melhor, sobre a professora, ninguém esboçava sequer uma expressão de descontentamento. Ninguém questionava os seus métodos.
Mas em toda turma, sempre existe aquele que quebra regras; o cara que não tem superego; o cara que seria capaz de fazer uma revolução por seus direitos como aluno. O Martin era um desses. Ele já estava inquieto. Não conseguia parar de olhar para a professora mas, sem coragem, não dizia uma só palavra. Experiente como era, a professora percebeu a atitude do rapaz e fitou-o bem nos olhos. Aproveitando a brecha, o menino mandou ver:
–Pode repetir as últimas duas frases, professora?!
Ao que ela retrucou, dizendo: – O que houve?
–A senhora poderia repetir um pouco mais devagar? Eu me perdi, professora! Respondeu o garoto, quase comovido pelo lapso e esperançoso de uma atitude bondosa por parte da educadora.
–É a última vez que vou repetir, portanto, preste muita atenção. Era a primeira vez que ela repetia o texto.
Depois dessa, ninguém mais se arriscaria a interromper o ditado, que continuava em ritmo de um carro de F1. O tempo passava rápido, tanto quanto as palavras que saíam da boca da ditadora, isto é, da professora. O silêncio era sepulcral na sala de aula. O sol da manhã já não era ameno e isso fazia o recinto ficar abafado. Os alunos pareciam exaustos da tarefa. A menina que se sentava em frente virou-se para Martin, perguntando a última frase dita pela professora. Após haver ajudado a colega, percebeu que tinha se perdido.
–Professora! – disse o garoto.
–O que foi desta vez? Você se perdeu de novo? – indignou-se a professora.Não. Minha amiga aqui é que se perdeu e fez com que eu me perdesse também!

6 de setembro de 2005

Estréia

Azar acontece na vida de todos. O meu, ter uma crença na sorte. Não existe sorte. Nós é quem criamos condições favoráveis aos acontecimentos, mas que às vezes dão errado (aí é o que chamamos azar).
Se você teve o azar (ou quem sabe a sorte) de acessar esta página, descobrirá que sorte é ler o que vai acontecer de agora em diante. Histórias, contos, reflexões e devaneios (um pouco de futebol de vez em quando). A poesia e o suspiro. Aqui. Na carta 13. Semanalmente.