30 de novembro de 2008

Globalização: Uma visão otimista! Uma visão humanística!

Autor: SXC
"Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-se dizer que uma história universal verdadeiramente humana está, finalmente, começando.

A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano.

Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestão: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana" (SANTOS, 2000:174).
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SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo / Razão e Emoção. São Paulo, Hucitec, 1996.

20 de novembro de 2008

A dominação continua: Zumbi é o verdadeiro mártir da liberdade!

Autor: Alex de Souza
Muitas cidades brasileiras “comemoram” no dia 20 de novembro o feriado da “Consciência Negra”, mas será que há o que celebrar?

Primeiramente, é bom que saiba de onde é que essa data saiu. Se existe um nome apropriado para esse dia, talvez seja “Dia de Zumbi”. Contudo, a imposição de um nome como o que se escolheu só demonstra a dominação e alienação que as elites brancas tentam impor aos afro-descendentes.

Zumbi foi líder da resistência no Quilombo dos Palmares. Lutou pela liberdade dos escravos e organizou uma comunidade que "ameaçava a ordem" constituída. Ao contrário de Tiradentes, que a história imortalizou como mártir da Independência, Zumbi foi o maior símbolo de liberdade que já existiu.

Recentemente, se exaltou a eleição e o triunfo de certo primeiro presidente negro da história de um determinado país que existe por aí. Ao contrário de um indígena de outro país (este sim, comprometido com uma causa), aquele é apenas um invólucro ébano de pensamentos brancos, sionistas e liberais.

Não é a cor da pele que determina se fulano é bom ou não. Há pessoas honradas bem como há cafajestes em toda casta, raça, nacionalidade e tribo. Contudo, aceitar a dominação imposta enfraquece o caráter de qualquer desses indivíduos.
Deveria existir o “Dia da Consciência Branca” (ao menos seria uma tentativa para que eles adquiram uma), porque se há alguém que necessita de uma, esse é o branco.

O povo preto (isso não é depreciativo, basta consultar os significados dos termos preto e negro em qualquer dicionário para entender que essa é mais uma forma de dominação e alienação) não precisa [somente] de homenagens, mas oportunidades iguais.

3 de novembro de 2008

Truste à vista!

Divulgação
Há poucas semanas os bancos divulgaram seus maiores resultados em anos. Aliás, os banqueiros devem agradecer ao governo Lula por sua benevolência para com as classes mais extremas: os miseráveis e os "qualquer cifra nários" que controlam tais instituições.

Contive-me, e nada escrevi sobre seus lucros. Contudo, a notícia que veio dos bancos Itaú e Unibanco causou um prurido descontrolável em minhas mãos. A chamada "fusão" de dois dos três maiores bancos privados concentrará ainda mais o poder que já detinham em separado.

Chamem do que quiser. Nomearei como truste esse movimento globalizante e predatório. Pois qualquer associação de empresas que se constitui de modo a formar uma organização única, com o fito de controlar um segmento e determinar a oferta de produtos (é importante frisar que os bancos não produzem absolutamente nada! não passa de agiotagem legalizada), deve ser classificada como é: TRUSTE!

Isso é péssimo para a economia, para os clientes dos dois bancos e para o país. Se há poucos anos havia opções inúmeras para a população, hoje temos um quadro de concentração perigoso e nocivo. O Banco do Brasil já esboça a incorporação da Nossa Caixa, embora muitos neguem.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) já cobrou um posicionamento dos bancos a esse respeito. O órgão é responsável pela aplicação da lei antitruste, nº 8.884, que pode ser consultada acessando: www.consumidorbrasil.com.br/consumidorbrasil/textos/legislacao/atruste.htm

A imprensa (sempre ela) batiza o movimento dos bancos como "louvável", "injeção de ânimo" para a economia e exalta sua grandeza, uma vez que estará entre os 20 maiores do mundo. O que a imprensa não divulga é que com isso o abismo entre os 50 milhões de miseráveis e o 1% de pessoas mais ricas do Brasil, entre os quais, os Setúbal e os Moreira Salles.

Aplaudir tal união é comemorar o casamento de Flora e Odete Roitman. O Bradesco? Não é nenhuma santa. Até hoje o processo da compra do BCN se arrasta. Da compra do Real pelo Santander todos se lembram. Ou já se esqueceram? E o Banespa? E qual será o próximo...

1 de novembro de 2008

Eloá, Liberdade de imprensa e as armas de Saddam

Divulgação
Não dá para falar de imprensa sem falar em formadores de opinião. A sociedade usa da imprensa para obter informações que não pode conseguir de outra forma, e é a partir desta que ela forma sua opinião. O problema é que nem sempre a imprensa reporta o que é mais importante.

A grande imprensa não se interessa por detalhes que não dêem audiência.

Stedile critica duramente esse comportamento ao afirmar que existe uma fábrica de “manipulação de consciências” em que “a imprensa se mesclou com o império das corporações. Hoje, estabelece uma relação inseparável de total promiscuidade com o grande capital” (2005:16). Resultado da distribuição dos meios de comunicação, em que a maior parte se encontra nas mãos de oligopólios formados por grandes empresas que nada tem que ver com a prática do jornalismo.

Tais corporações, ou instituições, tendem a ditar o que é ou não é notícia.

Segundo Arbex (2005), esse era o tipo de relacionamento entre o governo militar e a Globo, que ignorou enquanto pode o movimento popular Diretas Já. Não era interesse da Globo, porque não era, obviamente, de interesse da ditadura militar. No exterior, a situação é semelhante. Em 2000, a America On Line incorporou a Time-Warner, HBO Cartoon Network e a rede de televisão CNN. Não há dúvida de que a linha editorial dos veículos foi alterada para satisfazer os critérios de seus novos donos.

Stedile (2005) ressalta a importância da democratização dos meios, pois sua função é servir como instrumento de informação cultural, debate e a crítica. Mas Abramo APUD Arbex (2005) desacredita a democratização ao afirmar: “em quarenta anos de jornalismo, nunca vi liberdade de imprensa. Ela só é possível para os donos do jornal” (2005:168). Arbex (2005) destaca que essa liberdade promove a divulgação massiva de notícias que venham a enriquecer seus donos por seu valor como mercadoria. São as notícias bombásticas e espetaculares.

Ele chama esse fenômeno de “showrnalismo” e recorda-se dos casos da atriz brasileira Daniela Perez, assassinada pelo autor Guilherme de Pádua, com quem trabalhava em novela da Rede Globo, e do julgamento do ex-jogador de futebol americano e também ator O. J. Simpson, acusado pelo homicídio de sua esposa e um amigo. Os dois casos tiveram ampla repercussão na imprensa do Brasil e dos EUA.

No caso de Daniela, exemplo mais próximo da nossa realidade, existe o que existe a “novelização” do caso. Daniela e Guilherme executavam papéis de personagens muito próximos. Quando do crime, a imprensa cobriu o assassinato de modo a misturar ficção e realidade, tratando o acontecimento como espetáculo, e os níveis de audiência tiveram alta surpreendente.

Assim, a imprensa da época, sobretudo a televisão, cristalizou a imagem da mulher-atriz, assassinada na vida real e com sua vida “encurtada” na trama. Criou-se um estereótipo que Barthes APUD Arbex, (2005) define da seguinte maneira: “O estereótipo engessa, estigmatiza, aniquila o ser ou a coisa que ele nomeia. O estereótipo é capaz de petrificar até mesmo aquela que deveria ser a mais livre, imaginativa e desejável entre todas as relações humanas: o amor entre dois seres” (2005:87).

Caso ainda mais próximo ocorreu neste ano, na cidade de Santo André, Grande São Paulo. A jovem Eloá Pimentel foi assassinada após ter sido mantida em cárcere privado por seu ex-namorado, Lindemberg Alves. Da mesma forma que em outros casos, houve interesse no espetáculo que a notícia causou.

Lanyi (2008) compara a atuação da imprensa a uma arena onde leão e vítimas lutam incessantemente, sempre sob o olhar do público. Ao invés de ajudar, a imprensa atrapalhou as negociações da polícia com o seqüestrador, uma vez que ele acompanhava pela TV tudo o que acontecia fora do apartamento onde mantinha Eloá, bem como todo o Brasil.
Para Hoineff , a atuação da mídia foi um desastre, pois

“revela menos sobre o seqüestro do que sobre a própria mídia. O seqüestrador não tinha antecedentes e estava tomado pela emoção. Tornou-se um assassino pela sua inabilidade em lidar com uma situação circunstancial. A televisão, porém, essa incentivou – e provocou – o assassinato. A mídia tinha inúmeros antecedentes – e estava movida pela cobiça. O seqüestrador vai passar alguns anos numa penitenciária, apanhar bastante, (...) e ser devolvido para a sociedade inutilizado. A mídia, nesse período, já terá tirado proveito de várias dezenas de casos semelhantes. Para os programas policialescos, o caso de Santo André será na melhor das hipóteses lembrado como um número. Um bom número que só interessa ao Comercial” (2008:1).

Ele também critica duramente a impunidade desse tipo de jornalismo, que busca audiência antes de tudo. Classifica como um mau jornalismo, cuja atitude é movida pela perversidade de considerar o telespectador como simples consumidor. O caso Eloá foi transmitido da mesma forma que se faz com o episódio final de uma série de TV, uma novela, ou um drama hollywoodiano. Por um momento, a comparação com o Big Brother seria perfeitamente possível, pois o desconhecido Lindemberg, preterido por Eloá, tornou-se nacionalmente conhecido e detestado.

Para retomar o raciocínio de Arbex, é importante frisar que em poucos meses quase ninguém se lembrará dos detalhes do caso Eloá. Da mesma forma que poucos se recordam o que aconteceu no dia 9 de novembro de 1989. Segundo Arbex (2005), correspondente da Folha de S. Paulo à época, a manchete do dia destacou a cassação da candidatura de Sílvio Santos à presidência da república. A manchete sobre a queda do muro de Berlim, o assunto mais importante do dia, foi jogada para o pé da página.

E a televisão, ao invés de explicar, apenas mostrou as cenas do muro sendo derrubado, jovens felizes pelo seu feito e pessoas atravessando a barreira que antes fora quase intransponível. O que fica na mente das pessoas são esses flashes, uma reconstrução da história da maneira que a imprensa registrou os fatos. O mesmo se dá com a Guerra do Golfo, 1991, promovida pelo presidente dos EUA, George Bush – pai. As cenas dos combates aéreos mostradas ao vivo pela Cable News Network (CNN) lembram mais um filme de guerra ou jogo de vídeo-game do que a própria guerra.

As imagens elegidas não continham sangue, morte de civis iraquianos, sequer as dificuldades dos próprios soldados americanos, mas a angulação se deu na medida em que imagens espetaculares eram oferecidas. É o que Debord APUD Arbex, (2005) chamou de Sociedade do Espetáculo, que é o estágio final da sociedade de consumo. Não importa o porquê dos fatos. Da mesma forma que poucos se lembram dos motivos da guerra, poucos vão se lembrar das supostas armas químicas do Iraque.
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ARBEX JR, José. Showrnalismo: a notícia como espetáculo. São Paulo, Casa Amarela, 2005.
HONEIFF, Nelson. Quem matou Eloá? Disponível em: Acesso em 01 nov. 2008.

LANYI, José Paulo. Por que tudo acabou mal. Disponível em: Acesso em 01 nov. 2008.

STEDILE, João Pedro. Prefácio. In: ARBEX JR, José. Showrnalismo: a notícia como espetáculo. São Paulo, Casa Amarela, 2005.

25 de outubro de 2008

Corinthians: Com seus amigos, de volta ao seu lugar!

Divulgação
O sofrimento durou pouco mais que 300 dias. Na verdade, não durou sequer 11 meses. Hoje, no Pacaembu, o Sport Club Corinthians Paulista retornou à principal divisão do futebol brasileiro.

Além da paixão, que toma conta de todos os torcedores (entre os quais estou eu), é importante tirar lições para a vida dessa história toda. Afinal, o que é o esporte senão um exemplo a ser seguido na vida?

Tiro disso duas principais lições: primeira, "nada é o fim do mundo"; segunda, "é preciso reconhecer erros, deixá-los e planejar o futuro". Foi o que o Corinthians fez.

Em dezembro do ano passado eu quis morrer! Não literalmente, mas como queria! Como tantos outros, pensei ser o fim. Não era. Alguns tombos nos fazem repensar a vida e o que estamos fazendo com ela.

Passado o susto, é necessário avaliar a situação. Foi o que aconteceu. Um bandido foi deposto, uma nova atitude colocada em prática e o resultado todos conhecem.

O pior de todos os erros não é aquele que cometemos, mas aquele que não enxergamos. Felizmente, o Corinthians tem hoje amigos de seu lado, não exploradores. Graças a esaa amizade, estamos hoje de volta à elite.

Vai Corinthians! Voa alto! Viva sempre!


18 de outubro de 2008

O que é o amor?

Há momentos em que nos deparamos com situações que nos fazem pensar no propósito da vida e como somos frágeis.

O desfecho do caso da menina Eloá, ferida gravemente por seu ex-namorado, que não aceitou o fim do namoro, nos leva a pensar se isso pode ser considerado amor. Creio que não.

Nada justifica uma atitude como essa. O amor não é egoísta, mas liberta. O que nos leva a concluir que amar exige maturidade. Infelizmente, isso faltou ao casal. Amar não é simplesmente ter domínio sobre alguém, como no caso deles.

Amar é um compromisso para com outrem que visa apenas o seu bem-estar. É difícil conceituar, mas entendo desse modo.

A maior dádiva que recebemos foi o dom de viver. O verdadeiro amor nos faz sentir vivos, não o contrário. Quando amamos, desejamos o bem do outro, e que viva – ainda que não seja ao nosso lado.

12 de outubro de 2008

E agora, neoliberais?

Aos que pregam o "Estado Mínimo", basta ler as notícias sobre a atual crise para perceber que o Estado deve estar presente. Não foi o Estado que causou a crise, mas a sua ausência e entrega de suas responsabilidades ao assim chamado "mercado."

23 de setembro de 2008

Jornalismo Público: sinônimo ou adjetivo?

Fonte: Divulgação
Não é uma tarefa fácil conceituar. Em um mundo cada vez mais segmentado, com N tipos de jornalismo (político, econômico, esportivo, científico, cultural, internacional, etc.) surgem novas modalidades, como definidas por alguns autores.

Martins da Silva (2002) define o Jornalismo Público como sendo uma nova editoria, com espaço e objetos estabelecidos. Cita que seu surgimento se deu nos EUA, em 1990, mas que no Brasil ele ainda não possui uma característica acentuada, ou seja, está em processo de formação. Contudo, o Jornalismo Público no Brasil nasce de modo particular, pois está normalmente relacionado ao Terceiro Setor ou em matérias publicadas nas editorias de Cidades dos grandes jornais.


Para ele, alguns jornais dão um bom exemplo do que pode vir a ser chamado Jornalismo Público. O “Projeto Correio”, do Correio Brasiliense é um dos que ele destaca. Contudo, a maior parte das matérias de interesse público desse veículo trata das condições do trânsito ou violência. Além disso, disponibiliza espaço para a participação do leitor, imitando a interatividade que se verifica nos blogs da rede.


Para Freire (2008), a pergunta a ser feita não é o que vem a ser Jornalismo Público, mas para que o Jornalismo serve. Então, uma das respostas mais plausíveis é a de que ele serve para servir. Ao que se pode acrescentar: servir a quem? A quais interesses? E a resposta mais pura e honesta seria: servir ao público, servir ao cidadão, servir à sociedade.


O ideal, portanto, seria que todas as editorias cumprissem tal dever. Associar ou reduzir o Jornalismo Público a determinadas editorias é prescindir de sua real função social. O Jornalismo político deve ser público, bem como o econômico, como o cultural e o esportivo podem ser, e a ciência é outro assunto público que afeta as vidas das pessoas. Um jornalismo que não é público, não serve para nada, a não ser preencher espaços.


Mais do que isso, para Coelho Filho (2008) o jornalismo que não tem caráter público serve para aliviar a consciência dos jornalistas (ele se refere aos de televisão) quando vêem, ao final do dia, que tudo saiu igual em todas as emissoras. Accardo APUD Coelho Filho, afirma que “os jornalistas agem de forma orquestrada sem necessidade de se orquestrarem; sua identidade de inspiração torna desnecessária a conspiração."


A televisão, que é um dos meios de maior penetração, se rendeu ao “showrnalismo”, descrito por Arbex. Vender imagens é o que mais conta nos telejornais. Para interromper esse espetáculo da orquestra sem regente, de acordo com Coelho Filho:


“a proposta do Telejornalismo público da TV Cultura passa a ser uma alternativa de informação para a sociedade. Como não existe jornalismo imparcial no Brasil, e em nenhuma parte do mundo, a emissora assumiu de maneira deliberadamente parcial sua vocação: o interesse público regido pela ética do cidadão. Decisão possível, tendo em vista a compreensão de que qualquer pauta jornalística é fruto de uma ação subjetiva, pois parte de um pressuposto editorial, de um viés ideológico, ou mesmo de um histórico de vida de quem a produz” (2008).


Na TV Cultura definiu-se que:


“As histórias públicas são aquelas que superam os interesses privados, mercadológicos e partidários. Histórias que digam respeito à vida (meio ambiente, ciência e tecnologia), ao desenvolvimento da cidadania (políticas públicas, prestação de serviço etc.) e ao enriquecimento cultural dos brasileiros (divulgação e discussão das culturas de valor). O fetiche do "furo" cede lugar à cobertura regular, aprofundada, purgada do interesse espasmódico. Livre das amarras da estandardização, o jornalismo deve se voltar para o conhecimento e reengendrar as hoje esgarçadas relações com a universidade e fontes autônomas de saber” (2008).


O resultado dessa experiência é o inevitável ajuste do formato que predomina a maior parte dos telejornais brasileiros. A inclusão da reflexão nas reportagens, em detrimento do “show” de imagens, e contar uma história como ela se apresenta torna o programa mais longo. E a idéia é justamente diminuir o número de notícias para investir em reportagens. Para a nova filosofia de jornalismo da emissora mais vale uma história bem contada do que dezenas de notícias superficiais.


Face ao exposto pelos teóricos, podemos concluir que Jornalismo Público não é, de fato, uma editoria, mas um conceito inerente ao próprio jornalismo. Sem esse conceito, fica reduzido ao aspecto comercial e efêmero, não cumpre o papel ao qual se propõe e tem sua consciência arranhada pelos interesses mercadológicos. Jornalismo Público é aquele que faz o cidadão ser uma pessoa informada e esclarecida sobre qualquer assunto.


Se alguém vai a um jogo de futebol, não quer saber apenas a escalação dos times, também quer saber onde adquirir os ingressos, onde estacionar, quais vias serão interditadas, história dos clubes envolvidos, se algum dos jogadores que estarão em campo está perto de assumir a artilharia, a relevância daquela partida para o campeonato, o que pode acontecer em caso de vitória ou derrota de seu time, etc. Enfim, quem recebe a notícia quer saber tudo o que for puder sobre aquele evento.


O mesmo ocorre com outras áreas. Informação superficial pode ser encontrada com os amigos, no bar da esquina ou no tipo de jornalismo que se encontra por aí. O maior desafio é estar no ponto de equilíbrio entre o jornalismo chapa-branca que alguns veículos promovem e o jornalismo de espetáculo, em que a imagem é tudo. Jornalismo Público, nada mais é que um jornalismo feito com qualidade; não apenas técnica, mas estrutural. É uma alternativa à mesmice dos dias atuais e mais que jornalismo do Terceiro Setor: é a terceira via da informação.

Bibliografia
COELHO FILHO, Marco Antônio. A alternativa do jornalismo público. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/qtv 050920001.htm>, acesso em 19 set 2008.
FREIRE, Alexandre. Jornalismo público, "publijornalismo" e cidadania. Disponível em: , acesso em 20 set 2008.
MARTINS DA SILVA, Luiz. Jornalismo público: o social como valor-notícia. Disponível em: <>, acesso em 23, set 2008.

14 de setembro de 2008

Talento na voz, trabalho nas mãos

Foto: Divulgação

Ela surgiu em um programa de calouros, dividia a atenção com seu antigo parceiro de dupla, Rinaldo, mas agora já trabalha na divulgação de seu primeiro trabalho solo, Heaven’s Eyes (Habanero Music), e começa a escolher o repertório para o próximo CD, ainda sem data para ser lançado. O estilo “lírico-pop” da cantora Liriel Domiciano ainda é algo novo, mas ela tem trabalhado com empenho para que essa vertente da música erudita conquiste maior espaço dentro do cenário musical brasileiro.

Depois de surgir no programa de Raul Gil, Rinaldo & Liriel gravaram dois CD’s pela Warner. O primeiro, “Romance”, vendeu mais de 500.000 cópias. Juntamente com o trabalho seguinte, “Tempo de Amar”, rendeu uma série de apresentações por todo o Brasil. Terminado o contrato, surgiu uma oportunidade para Rinaldo continuar a carreira com outra gravadora. Isso deu a Raquel Domiciano Pereira, seu nome de batismo, a oportunidade de executar seus planos pessoais.

Em 2004 ela foi para os EUA, onde teve oportunidade de aprimorar o canto e se apresentar para o maior público fora do Brasil, “70.000 pessoas sentadas”, ressalta a soprano, ocasião em que cantou ao lado do Coro do Tabernáculo Mórmon. Aqui ela já havia se apresentado para o mesmo número de pessoas, mas foi durante um evento religioso realizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo.

Suas apresentações na terra do Tio Sam foram transmitidas para mais de 30.000 pessoas espalhadas por 176 países. Assim, ela ficou mais conhecida na Europa, para onde viajou em 2005. O velho continente foi o palco inspirador para Heaven’s Eyes (2006), que traz uma versão de “Monte Castelo”, famosa na voz de Renato Russo. Porém, mais do que fama, Liriel quer desempenhar um papel social por meio da música.

De shows realizados na Baixada Santista, materiais terapêuticos para deficientes físicos foram adquiridos e doados para instituições. Além disso, Liriel tem outro projeto a ser cumprido. Ela quer formar uma escola de música gratuita para capacitar jovens que queiram prosseguir os estudos musicais em nível superior. Ela tem participado de campanhas do governo e cedido sua imagem para influenciar positivamente o público. Sem dúvida, é uma musicista com um olhar sustenido em relação ao mundo que a cerca.

A seguir, ela conversa com Carta 13 sobre seu trabalho atual, as dificuldades de se fazer música erudita no Brasil e os frutos que ela já colheu deste campo ainda pouco cultivado em terras tupiniquins.

Carta 13: Além da divulgação do álbum Heaven’s Eyes, o que você tem feito?

Liriel: Estamos trabalhando na produção de um DVD que contém alguns trechos das gravações do novo álbum, da visita que fiz à República Tcheca, Hollywood, etc. É mais ou menos um making of do novo trabalho.

Além disso, temos trabalhado em conjunto com o Ministério da Cultura para difundir a música clássica no Brasil, especialmente o canto lírico-pop, do qual sou uma representante.

C13: O novo CD já superou os trabalhos anteriores? Quais são as vantagens e os obstáculos de se trabalhar com uma gravadora independente?


Liriel: Sim, já. Heaven’s Eyes ultrapassou a marca de 30.000 cópias. Claro que com a gravadora anterior (Warner) o trabalho de divulgação era mais consistente, até mesmo pela estrutura que há, talvez seja essa a maior dificuldade de um trabalho independente, mas isso tudo será superado.

Nosso trabalho está apenas no início. A gravadora ainda é nova. Na verdade, eles apostaram em mim, pois a Habanero Produções foi criada especialmente para divulgar meu trabalho. Temos algumas dificuldades que todas as gravadoras enfrentam, mas estou certa de que avançaremos.
Com relação aos pontos positivos, hoje me sinto livre para fazer as coisas do jeito que quero.


A capa do CD foi como eu queria; bem como a escolha do repertório, o tipo de apresentações, os locais, enfim; isso tudo era controlado pelo contrato anterior. Hoje eu tenho mais arbítrio de minhas decisões.

C13: As dificuldades às quais você se refere incluiriam os free downloads? O que pensa sobre isso?


Liriel: Certamente. As gravadoras ainda não se adaptaram bem a essa nova realidade aqui no Brasil. Muitos projetos foram deixados de lado. Na Europa já é um processo mais consolidado.

O maior desafio que se enfrenta nesse campo é a pirataria. A nossa produção está estudando formas de usar as novas tecnologias a nosso favor e em benefício dos fãs.

C13: Você descobriu a música ainda muito jovem, por que a música lírica?


Liriel: Foi amor à primeira vista. (risos) Eu escolhi seguir esse estilo por volta dos 16 anos, o que foi ótimo para mim, pois só se inicia uma carreira como cantora lírica aos 18 anos, o que me deu tempo para me aprimorar.

Cheguei a desenvolver outros estilos, mas achava mais difícil cantar música popular. O erudito era algo natural para mim. Quando era pequena, minha mãe comprava discos de vinil de Mozart, Beethoven e outros clássicos.

Eu brincava com as músicas, como qualquer criança faz. Assim descobri que tinha facilidade para um tipo de música diferente. É algo raro, que decidi explorar.

C13: Como seu trabalho é visto dentro e fora do país?


Liriel: No Brasil ainda precisamos avançar mais nessa área musical, mas é um processo longo. Eu estive nos EUA, República Tcheca, Inglaterra, Hungria, etc.

Lá as coisas andam naturalmente. Recebo e-mails de pessoas do Canadá, da Bélgica, Alemanha, todos perguntando como se faz para comprar o CD, sobre apresentações no exterior. Aqui ainda falta difundir mais a cultura da música clássica, mas é um trabalho a longo prazo.

C13: O que falta para criar essa cultura musical mais refinada no Brasil?


Liriel: Faltam mais pessoas especializadas em música, pessoas com conhecimento. Isso leva tempo. É preciso trabalhar com os jovens, formar mais professores, difundir a música desde os primeiros anos até o nível superior. Temos alguns projetos nesse sentido.

C13: Você se formou pela Universidade Livre de Música (ULM), há planos de se tornar uma professora, a fim de dar a sua contribuição nesse sentido?


Liriel: Claro. Porém, quero ir além. Temos um projeto para formar escolas livres de música onde as crianças poderão ter contato mais próximo com o canto, instrumentos musicais e possam ser pessoas melhores por meio da música. Isso ainda é apenas um projeto, tem de ser pensado e bem planejado para que tenha um bom resultado.

C13: Você se sente uma pioneira?


Liriel: Sim. Eu fui a primeira cantora romântica clássica do Brasil. Nesse sentido, também posso afirmar que Heaven’s Eyes é uma referência mundial para a música erudita que pode ser feita aqui.

Há quem diga que o brasileiro é burro, ignorante, que não pode fazer um bom trabalho aqui. Ao olhar a capa do CD e ouvir as suas faixas, qualquer estrangeiro vai dizer que está no mesmo patamar de outros nomes de peso, como Andrea Bocceli, Luciano Pavarotti, etc.

Não falo isso com ostentação, não. Não é por glamour tampouco. Falo isso porque tenho orgulho de ser brasileira, e por fazer música erudita aqui em nosso país. Apesar de toda a dificuldade da vida de um músico, vale a pena lutar por isso. Sei que os frutos virão. Os frutos virão!

C13: Que dica você deixa aos iniciantes?


Liriel: A vida do artista é meio complicada. Há fases em que você fica mais exposto na mídia e há aquelas em que você fica esquecido. Talvez, a palavra chave para tudo seja a persistência. Eu busco a cada dia me aperfeiçoar.

Quero ser uma artista completa, pois isso é um diferencial. É preciso se especializar, exercer a tolerância, paciência e esperar o momento certo. Ele sempre chega!

6 de setembro de 2008

Papel do jornalista no século XXI

Servir o melhor prato: esse é o nosso papel!

Não se pode falar em papel do jornalismo no século XXI. Possível, sim, é explanar as maneiras ou métodos que o jornalismo deve adotar para continuar cumprindo o seu papel, que não se altera nunca. O papel do jornalismo continua a ser o mesmo dos séculos anteriores. Papel este definido da seguinte maneira por Dines:

“O jornal é o fragmento da história e da memória de um país (...). O homem se informa para sobreviver. A sobrevivência física, pura e simples foi buscando formas mais sutis, podendo-se hoje dizer que um indivíduo não integrado no seu ambiente e no seu tempo está morto para a sociedade. A ignorância de certos fatos da vida contemporânea pode ser fatal para um cidadão” (1986).

É claro que na Era Digital alguns ajustes devem existir para que o jornalista continue sua atuação. Da mesma forma que o rádio e, depois, a TV modificaram o fazer jornalístico, o advento da Internet trouxe mudanças. Verdade que são maiores e mais significativas, porém, o papel do jornalista continua sendo o mesmo. De acordo com o raciocínio de Aroso (2008), o jornalista, mais do que em qualquer outro tempo, é um mediador – papel que deve ser recuperado.


Uma vez que o volume de informações é gigantesco, cabe ao jornalista o papel de selecionar o conteúdo que interessa ao seu público, interpretar o fato e expô-lo de forma palatável à audiência. Isso não significa que ele atuará como gatekeeper, em seu sentido mais tradicional, mas que o jornalista do século XXI, por assim dizer, terá papel decisivo para uma prática jornalística de mediação discursiva.


Em um mundo sobrecarregado de informações, que aparecem de forma igual nos meios, se destacará o veículo que explicar melhor a notícia. Pode-se comparar a notícia a um determinado alimento disponível em vários restaurantes; o tratamento e preparo do alimento, condimentos usados, estética do prato e o bom atendimento farão toda a diferença para determinar o maior sucesso de um em relação ao outro.

Chaparro aprofunda a complexidade do trabalho deste chef da notícia que é o jornalista da seguinte maneira:

“(...) Nessa nova realidade, fontes e meios praticam uma cooperação de recíproca conveniência: os jornalistas das redações escrevem cada vez mais sobre fatos que não observaram e sobre assuntos de que não entendem – precisam de bons informantes e intérpretes da realidade; as fontes empresariais e institucionais, geradoras de fatos e atos de relevância social, e detentoras da capacidade de explicá-los, não sobrevivem sem a comunicação com os ambientes externos – precisam dos meios” (1994).

Por isso o profissional do novo século deve ser mais cauteloso ao elaborar seu trabalho, ou de outra maneira alterará (aí sim) o seu papel. Medina (1988) chama a atenção para o fato de que a ampliação da notícia, que é a reportagem, corresponde a uma interpretação dos fatos, e, para ela, essa é uma tendência da imprensa mundial.


O papel do jornalista, portanto, não mudou. O que ele tem de fazer é encontrar maneiras criativas de continuar desempenhando o que tem por dever: informar e servir como mediador. Imprescindível para tal tarefa é o conhecimento de áreas específicas de atuação, constante atualização e ética, que deveria ser o fio condutor de toda atividade profissional.


Bibliografia

AROSO, Inês Mendes Moreira. A Internet e o novo papel do jornalista. Disponível em: Acesso em 03. set. 2008.
CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do Jornalismo: Buscas páticas para uma teoria da ação jornalística. São Paulo, Summus, 1994.
DINES, Alberto. O papel do jornal. São Paulo, Summus, 1996.
MEDINA, Cremilda. Notícia, um produto à venda: Jornalismo na Sociedade Urbana e Industrial. São Paulo, Summus, 1988.

16 de agosto de 2008

Construção civil cresce mais em 2008


O mercado imobiliário viveu um momento de expansão sem precedentes em 2007, e isso deve impulsionar o crescimento previsto para este ano.

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam o segmento da construção civil como o destaque na geração de empregos formais em 2007. O setor teve um saldo de mais de 176 mil empregos gerados – expansão de 13,08%.

Isso representa mais do que o dobro dos índices alcançados pelo comércio (6,5%), indústria de transformação (6,1%), serviços (5,3%) e está acima da média de crescimento de vagas formais em todo o Brasil (5,85%).

A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) prevê uma taxa de investimento no setor acima de 20% para este ano; também calcula a criação de cerca de 1 milhão de empregos formais em todo o país.

Isso resultaria dos investimentos de R$ 18 bilhões previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O quadro é mais favorável no Estado de São Paulo, que, para a sorte dos pedreiros, registrou o maior número de contratações no ano passado: 66 mil vagas.

27 de julho de 2008

Fonte: Rodrigo Mendes
Nevascas fora de época foram registradas neste ano nas Montanhas Rochosas
















AQUECIMENTO GLOBAL

Um pouco de aquecimento seria bom, afirmam céticos

Cientistas contrários ao IPCC dizem que a Terra se prepara para um esfriamento global, o que pode ser pior que os efeitos do aumento da temperatura no planeta.

A pauta do momento é o aquecimento global. Há cientistas que dizem que a Terra está aquecendo e os que afirmam o contrário. Seja como for, a tese mais comumente aceita é a primeira. Se isso é verdade, existe algo de bom nisso? Os que se posicionam de modo contrário a essa tese dizem que sim, mas para eles o planeta está esfriando.

Essa é a opinião do cientista político Bjorn Lomborg. Para o sueco, professor da Escola de Administração de Copenhagen, que também se engajou no movimento ambientalista e escreveu livros sobre o assunto, é inútil combater o aquecimento. Em entrevista concedida ao jornal "O Estado de São Paulo", em março deste ano, ele afirmou que o dinheiro previsto para projetos contra o aquecimento deve ser gasto para sanar o problema da fome no mundo. Contudo, reconhece a importância dessa crença em um aquecimento, pois políticas públicas incentivaram o investimento em fontes de energia alternativas.

Ao questionar o climatologista português Rui Moura, muito mais cético que Lomborg, a resposta em relação a um hipotético aquecimento é bem mais incisiva: “Para o Homem um cenário de aquecimento é nitidamente preferível ao de arrefecimento”. Ele explica que, no Período Quente Medieval (1000-1300) houve abundância nas safras de cereais. Os camponeses europeus enriqueceram e migraram para as cidades. Moura também ressalta o vigoroso crescimento das cidades, que contavam com uma mão-de-obra abundante.

Nesse período foram construídas as pontes e as catedrais góticas. Os vikings colonizaram a Groenlândia, onde produziam cereais em quantidade suficiente para manter uma colônia florescente. Os árabes subiram até ao norte da Península Ibérica para ocupá-la; os ingleses cultivavam vinho nas terras ao norte, próximo à fronteira com a Escócia.

Na Alemanha, alguns séculos depois, a economia vive um momento de prosperidade parecido, graças às ações que visam o combate ao aquecimento. As usinas de energia eólicas estão entre os maiores empregadores de mão-de-obra do país. Isso é reflexo direto das metas estabelecidas pelo governo, cujo objetivo é atingir a ambiciosa meta de ter 12,5% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis de energia até 2010. Cerca de 170 mil pessoas trabalham no setor e estima-se a criação de mais 100 mil vagas até o ano 2020.

Esse é o mesmo panorama de outros países europeus, tais como a Inglaterra e a Holanda. Neste último, uma empresa fabricante de eletroeletrônicos prevê a venda de 325 milhões de lâmpadas fluorescentes, número cinco vezes maior do que tudo que foi vendido em 2001, quando começou uma campanha contra as lâmpadas incandescentes, que duram menos e consomem mais energia.

E no Brasil os bons efeitos do aquecimento também se fazem sentir. A venda de eletrodomésticos é movida por aparelhos que consumam menos energia, os carros que convertem o motor para GNV (Gás Natural Veicular) pagam menos impostos e a negociação de créditos de carbono já chegou à bolsa de valores de São Paulo, a Bovespa.

Contudo, segundo Moura, essa euforia provocada pelo suposto aquecimento deve acabar logo. Isso porque depois da era de aquecimento já descrita, seguiu-se um período frio conhecido pela Pequena Idade do Gelo (1300-1850). Isso foi uma catástrofe, pois a fome se alastrou devido às colheitas destruídas.

Os vikings abandonaram a Groenlândia e dirigiram-se para o continente americano. Os que ficaram não quiseram adotar um modo de vida tipo esquimó e preferiram morrer como cristãos. De acordo com o cientista português, existem ruínas de igrejas cristãs groenlandesas. Durante as fases de tempo quente a humanidade multiplica-se. Durante as fases de tempo frio retrocede. “Os malthusianos sabem disso”, dispara.

Vale a pena discutir sobre aquecimento ou não aquecimento?

Para Wilson da Costa Bueno, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), é muito importante debater sobre o assunto. “O aquecimento global é uma pauta fundamental, mesmo porque há elementos para comprovar a dramaticidade do problema. Reconheço que a imprensa, em geral, age de maneira sensacionalista e, com raras exceções, não está na prática efetivamente comprometida com o debate”, pensa.

Para Bueno, a cobertura é mais consistente nas mídias ambientais e nas falas de algumas ONGs da área. Lembra que há também muitos oportunistas (políticos, empresários, executivos de empresas predadoras e mesmo jornalistas que fazem o jogo do marketing verde) que estão chegando agora, tentando ver se participam deste banquete informativo.

“Acho que o tema merece cobertura, mas que ela deveria ser mais qualificada. Falta compromisso, falta informação e falta vergonha na cara para muitos coleguinhas. Felizmente, há ainda gente séria”, conclui.

Mais do que garotas de biquíni na praia, ou tomar um bom sorvete numa tarde quente, o aquecimento global já conseguiu provocar um debate sobre o assunto, ainda que não seja tão bom, como afirma Bueno.

Causas do fenômeno provocam divisão entre cientistas

No ano passado o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, recebeu o Prêmio Nobel da Paz juntamente com os membros do IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, órgão da ONU que elaborou um relatório sobre o clima, apresentado em fevereiro de 2007. Contudo, eles não são uma unanimidade para outros cientistas. As causas do aquecimento global são o maior ponto de divergência entre o primeiro e o segundo grupo.

Os cientistas do IPCC e o cineasta norte-americano Al Gore dividiram um prêmio de US$ 1,5 milhão, o equivalente a quase R$ 3 milhões. O Prêmio Nobel da Paz, entregue na cidade de Oslo, Noruega costuma contemplar pessoas ou grupos que contribuam de algum modo para a manutenção da paz mundial. Al Gore foi um dos indicados por ter produzido o filme “Uma verdade inconveniente”.

O grupo que discorda dos primeiros alega que os relatórios apresentados pelo comitê não devem ser tomados como definitivos, o que justificaria a revisão dos investimentos feitos nas atuais pesquisas sobre o tema. Quanto ao ex-presidente dos EUA, sua alegação é de que não passa de um oportunista. Para Rui Moura, a decisão do Supremo Tribunal de Londres, que apontou nove erros no documentário de Al Gore apenas um dia após a entrega do prêmio, não poderia vir em momento melhor.

“É a coroação de uma mentira climática”, referindo-se à entrega do Nobel da Paz. “O júri que atribuiu o prêmio não deve entender ciência e, muito menos, climatologia. O Supremo Tribunal de Londres reconheceu existirem nove erros no principal trabalho de Al Gore que, por sua vez, repete a cartilha do IPCC”, diz. Autor do blog “Mitos Climáticos”, Moura é um dos que reclamam um maior espaço nos veículos de comunicação especializados no assunto.

Ele diz que a Terra é como o interior de uma geladeira, que existe uma troca constante de temperaturas e por isso não se pode falar em mudanças globais. “Qual é o significado físico da designada temperatura média global? Se alguém tiver a idéia de determinar matematicamente a temperatura média do Brasil e de Portugal, o valor obtido define o clima do Brasil e de Portugal? Não, como é óbvio”.

Moura se refere ao modo como os cálculos do aquecimento global são realizados, por meio de modelos matemáticos. “A designada temperatura média global tem um significado estatístico. Não tem qualquer significado físico dentro do campo das temperaturas. Representa as trocas meridionais de massas de ar e de energia entre os pólos e os Trópicos. Quando o valor é elevado significa uma intensificação dessas trocas. Como é hoje.

Para ele, a troca não pode tender para infinito, por isso a designada temperatura média global passa por um máximo e depois desce. É o que ele chama de “ciclo natural do clima”. “Dentro de uma a duas dezenas de anos vai descer em ambos os hemisférios. Sim, porque no Hemisfério Sul existe indícios que apontam já para essa descida”, aponta Moura.

Barrado no IPCC, cético admite crescimento dos empregos

Outro excluído é o norte-americano Richard Lindzen. O climatologista do Instituto de Tecnologia de Massachussets afirma haver muitos cientistas respeitados que, por discordarem do IPCC, foram duramente censurados e tiveram o financiamento para novas pesquisas suspensos por seus respectivos governos. Mesmo antes que o Painel divulgasse os dados apresentados neste ano, Lindzen, que já integrou o Painel da ONU, denunciou o que poderia acontecer no artigo “Clima de Medo”, escrito em abril de 2006.

“Levantando a questão sob o ponto de vista político, os que liberam recursos para pesquisas vão acabar provocando ainda mais alarme e aumentar a dimensão política da questão. Quem se interessará em pôr dinheiro na ciência – para a AIDS, ou o espaço, ou o clima – se não há nada que realmente alarme?”, questiona.

Ele reconhece, porém, que o aquecimento global aqueceu o mercado e gerou muitos empregos por causa das políticas públicas executadas. “Certamente, o sucesso do alarmismo em torno do clima pode ser contabilizado pelas despesas federais em pesquisas que eram de algumas centenas de milhões de dólares antes de 1990 e hoje alcançam 1,7 bilhão.

Pode ser constatado também pelos crescentes gastos em energias limpas como solar, eólica, hidrogênio, álcool, etc.”Por outro lado, um dos nove brasileiros que participaram da elaboração do documento sobre o clima apresentado pelo IPCC, Odo Primavesi, que é engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, diz que existe certa colaboração de Al Gore, pois ao menos propagou ao mundo a importância do cuidado com o clima.

“Al Gore merece o prêmio pelo esforço realizado”, afirma Primavesi.Ele rebate as críticas e afirma existir uma posição parcial do IPCC em relação às causas do aquecimento global. “O relatório do IPCC procura esmiuçar de forma esmerada a visão dos gases de efeito estufa. Mas em nenhum momento toca no aspecto do que gera o calor que vai ser retido e refletido por esse cobertor de gases que envolve a Terra”, defende. “Os cientistas constataram um fato. Mas as ações dependem de políticas e de boa vontade da população consumidora. Os políticos ainda não se convenceram, e são forçados por lobbies de que teriam prejuízos econômicos”.

Pontos em comum, até certo ponto

Apesar da não concordância entre os dois grupos de cientistas, eles concordam em pelo menos dois fatos: que a temperatura média global aumentou desde o final do século XIX; e, que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera aumentaram 30% no mesmo período. Mas as maneiras de explicar as afirmações acima tomam caminhos totalmente distintos.

Em relação às causas da mudança de clima, o relatório do IPCC afirma que é "muito provável" (até 90% de chance) que as atividades humanas, lideradas pela queima de combustível fóssil, estejam fazendo a atmosfera esquentar desde meados do século passado. Contudo, o próprio Ministério do Meio Ambiente brasileiro tem recomendado cautela com relação aos resultados, preferindo tomá-los como indicadores, postura adotada pelo pesquisador da Embrapa.

Primavesi lembra que o aquecimento global não é constituído apenas por gases, mas também pela falta de áreas verdes, que faz aparecerem as “ilhas de calor”. Lindzen, por sua vez, não atribui as catástrofes naturais do último século a uma suposta ação humana e que não são apenas os homens os emissores de gases, pois eles são fartamente encontrados na natureza. Moura explica as diferenças de temperatura como um ajuste natural do planeta, como se fosse imensa geladeira, com o congelador nos pólos. Para ele, as diferenças de temperatura são resultado de um esforço natural da Terra.

Também discordam quanto à eficiência do uso dos modelos, programas de computador preparados para simular situações climáticas. Enquanto o primeiro grupo confia em seus dados, o segundo questiona-os duramente. Um exemplo de estudo realizado a partir dos modelos é o que foi publicado recentemente pela Nature, fortemente rebatido pelos não céticos. De acordo com a revista, a atividade humana é responsável não apenas pelo aquecimento global, mas também pelo aumento da umidade do ar.

O fato é que em nenhuma parte da matéria havia espaço para outras opiniões. Com tantas vozes diferentes apregoando sobre o mesmo tema, fica difícil entender o que move cada pensamento. Há explicações plausíveis dos dois lados; razão pela qual deve haver espaço para ambas correntes teóricas.

Avaliação científica influencia políticas de investimento
Governos investem em novas pesquisas: orientados pelas decisões de especialistas

Por causa das alterações climáticas geradas pelo aquecimento global, cientistas ligados à área de Ciência & Tecnologia buscam novas alternativas para que a sociedade moderna continue sua evolução, sem aumentar os prejuízos ao ambiente. Diferentemente do que se possa supor, a temática é debatida entre governantes e cientistas desde fins da década de 80, e esse foi o ponto inicial para a criação do protocolo de Kyoto.

O protocolo visa diminuir em 5,2% dos gases poluentes, percentual referente ao ano de 1990, e essa meta deve ser alcançada entre 2008 a 2012, porém, avanços deveriam ter sido apresentados em 2005. Para se tornar vigente é necessária a ratificação por, no mínimo, 55 países, a fim de contabilizar 55% da emissão de gás carbônico produzido pelos países industrializados.

O relatório não exige a participação de países em desenvolvimento porque não são os maiores poluentes globais, como é o caso do Brasil, que utiliza energia limpa proveniente das hidrelétricas, contudo, sua maior fonte de poluição são as queimadas, que geralmente ocorrem para limpar o canavial. Dessa maneira não é preciso investir em maquinário e, por conseguinte, em trabalhadores especializados.

Devido ao aquecimento global, surge a problemática de se promover o desenvolvimento sustentável, que implica no fato de que os recursos utilizados pela atual geração sejam desfrutados pelas gerações futuras. Por exemplo, há as novas tecnologias para celulares, mas sem uma política ampla para o descarte das baterias toda a futura geração encontrará sérias dificuldades para trabalhar a questão do lixo.

Outro exemplo é o petróleo, maior fonte de energia não-renovável no mundo, também conhecido como energia suja. Essa fonte de energia foi usada em demasia, se esgotará, é poluente e um dos prováveis causadores do aquecimento global. Para o Economista e doutor em administração de empresas pela Faculdade Getúlio Vargas, Pedro Ramos, o desenvolvimento sustentável, “cujo tripé engloba os objetivos ‘ambientalmente correto, socialmente justo e econômico’, com enfoque principal neste último, até agora é mito, pois não houve grandes feitos para colocá-lo em prática. É preciso haver um equilíbrio entre os objetivos, sem privilegiar apenas um”.

O biocombustível surge como uma alternativa para apaziguar o problema, uma vez que é energia limpa (grau poluente menor) e renovável. Conforme explica o Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade de São Paulo (USP), Bill Jorge Costa, os biocombustíveis derivam de todos os óleos vegetais, gorduras animais e resíduos da biomassa, que contêm ácidos graxos e, ainda, existem outros resíduos que podem ser transformados nessa energia limpa. “Ainda não temos clareza qual apresenta maior benefício ou menor risco, mas certamente a escolha da matéria-prima está fortemente atrelada à sua produtividade, custo de produção e aproveitamento integrado dos co-produtos gerados”, conclui.

Por depender de matéria-prima como a cana-de-açúcar, subsídio mais usado no Brasil, existem questões sobre como a produção em larga escala afetará o solo por causa da prática da monocultura. Terras férteis serão supostamente desapropriadas para a plantação de matérias orgânicas que originam o biocombustível, tais como soja e mamona, ou seja, são necessárias diretrizes que definam locais e o modo como o combustível será feito.

Por sua vez, os países do hemisfério sul são os menos poluentes e os mais ricos em solos para o cultivo das matrizes energéticas, entretanto, tal fonte de energia seria, na teoria, voltada para utilização em automóveis, uma vez que o Brasil já usa energia limpa em suas indústrias, e o uso do petróleo é, em grande parte, destinado a automóveis. Com o surgimento dos carros com motor Flex, diminuiu-se o uso da gasolina (energia suja).

Este ano o presidente norte-americano George Bush veio ao país a fim de se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para debater a exportação do etanol, pois nos Estados Unidos a matriz energética é obtida por meio de grãos, como o milho, e não é tão eficaz como a obtida na cana. Contudo, o petróleo, mesmo que em menor quantidade, ainda será usado pelas indústrias dos países desenvolvidos, uma vez que os biocombustíveis ainda não têm a potência necessária para atender a demanda das grandes indústrias, de maneira que a produção não seja afetada.

17 de julho de 2008

Guardiões da tradição




Orquestra de Viola lança novo DVD

Texto e fotos: Alex de Souza
O percussionista Escurinho, programa “Viola minha Viola”, gravou o DVD com a orquestra

Se a maior qualidade de um caipira é a simplicidade, a Orquestra Paulistana de Viola Caipira (OPVC) está bem longe disso. Não por seus integrantes – muito simpáticos e achegados – mas por sua música. De fato, formam uma orquestra, pois a complexidade de se tocar viola (aquela com 10 cordas, distribuídas em cinco pares) ao lado de outros 50 violeiros exige uma coordenação e sincronia que além da capacidade dos seres comuns.
Difícil também se torna a tarefa de descrever a aura que um ensaio da OPVC contém. Ao conversar com o maestro Rui Torneze, a frente da orquestra há mais de 11 anos, era possível ouvir os integrantes afinando seus instrumentos, contando histórias e, entre uma nota e outra, eis que surgia Hotel California, sucesso dos anos 70 com a banda The Eagles. A música é executada de forma incidental pela orquestra, e os mais jovens adoram essa parte!
E por falar nisso, Torneze diz que é interessante ver essa interação de gerações. A diferença de idade é enorme, 78 anos entre o membro mais novo e o mais velho do grupo. “O segredo é extrair o que cada um tem de melhor”, explica o maestro. Os mais jovens adoram dar suas “ponteadas”, ou seja, solos de viola; enquanto que os mais antigos mantêm a base de uma forma cadenciada.
Embora a OPVC tenha um repertório composto, em sua maioria, por músicas instrumentais, há momentos em que seis “cantadores” se perfilam para dar voz a determinadas canções. É o caso de Cabocla (Tonico/Tinoco), uma das músicas mais executadas, e o Hino Nacional Brasileiro, de um modo que Estrada e Silva não desaprovariam – todas as notas são requeridas pelo exigente maestro.

Centro de referência
A orquestra está inserida no Instituto São Gonçalo de Estudos Caipiras, na Vila Matilde, próximo à estação do metrô. Mantida por seus próprios integrantes, o local vai além da música. Segundo Rui Torneze, o objetivo é formar um centro de referência da cultura caipira. A bibliografia sobre o assunto não é muito ampla, mas a biblioteca em formação (ainda não disponível para o público) já dispõe de bom acervo para iniciantes no assunto.
A principal atividade da ONG é resgatar o repertório musical da Viola Caipira, pois não existem publicações formais ou informais com as letras e arranjos dos registros fonográficos originais. Tais arranjos variam bastante, passando pelo cururu, toada, rasta-pé, recortado, cateretê, pagode, etc. São oferecidos cursos de Viola Caipira, Violão Popular, Luthiaria (construção de viola e violão) e Culinária Regional.
Por tudo isso, hoje eles são o grupo mais solicitado para eventos que envolvam a música e a cultura caipira. E isso impulsionou a gravação do segundo DVD da orquestra, gravado no teatro Pedro II, em Ribeirão Preto. Toda a renda do show foi revertida para instituições locais. Assim que estiver pronto, poderá ser adquirido na página da orquestra na internet, que já comercializa os trabalhos anteriores.

Entre o popular e o erudito
A sala utilizada pela orquestra para seus ensaios tem as paredes adornadas com as imagens de São Gonçalo (padroeiro dos violeiros), Cornélio Pires (pioneiro da música caipira no Brasil) e Tião Carreiro (símbolo de uma geração). A viola é um instrumento popular, mas a OPVC conseguiu impor um olhar sustenido em relação à sua musicalidade. Como não poderia deixar de ser, a maior parte do repertório se baseia na música de raiz, mas com um toque de erudição único.
Solitária entre tantas violas, a rabeca de Vera Lúcia Carratu dá esse toque especial às execuções. Aliás, Vera é uma das sete mulheres que integram o grupo. A orquestra também conta com o famoso percussionista Escurinho, integrante do Regional de Inezita Barroso no programa “Viola, Minha Viola”, da TV Cultura. Ao lado de Pena Branca, Inezita apadrinhou o instituto quando de sua criação, em 2001.
Torneze lembra momentos inesquecíveis do grupo. Um deles foi quando se apresentaram na Bovespa. “Havia muitos estrangeiros aquele dia: investidores, empresários. Na hora em que começamos a tocar, aquele clima de tensão da bolsa acabou. Todos se acalmaram e fomos muito aplaudidos”, recorda. Numa outra oportunidade, foram convidados para tocar no aniversário do bairro da Freguesia do Ó.
De acordo com o maestro, havia dois grupos de hip hop, e eles se apresentariam logo depois. A maior preocupação era como a música caipira seria recebida pelas pessoas que estavam no local. Para a surpresa de todos, vários “manos” começaram a pedir: “toca essa; toca aquela”. Alguns chegaram a dizer que enquanto a orquestra tocava, eles se lembravam do pai ou do avô. “Foi muito gratificante”, conclui.

Abaixo: Estátua de violeiro adorna entrada do instituto; à esquerda: Orquestra ensaia sob olhar de Tião Carreiro

11 de julho de 2008