23 de setembro de 2008

Jornalismo Público: sinônimo ou adjetivo?

Fonte: Divulgação
Não é uma tarefa fácil conceituar. Em um mundo cada vez mais segmentado, com N tipos de jornalismo (político, econômico, esportivo, científico, cultural, internacional, etc.) surgem novas modalidades, como definidas por alguns autores.

Martins da Silva (2002) define o Jornalismo Público como sendo uma nova editoria, com espaço e objetos estabelecidos. Cita que seu surgimento se deu nos EUA, em 1990, mas que no Brasil ele ainda não possui uma característica acentuada, ou seja, está em processo de formação. Contudo, o Jornalismo Público no Brasil nasce de modo particular, pois está normalmente relacionado ao Terceiro Setor ou em matérias publicadas nas editorias de Cidades dos grandes jornais.


Para ele, alguns jornais dão um bom exemplo do que pode vir a ser chamado Jornalismo Público. O “Projeto Correio”, do Correio Brasiliense é um dos que ele destaca. Contudo, a maior parte das matérias de interesse público desse veículo trata das condições do trânsito ou violência. Além disso, disponibiliza espaço para a participação do leitor, imitando a interatividade que se verifica nos blogs da rede.


Para Freire (2008), a pergunta a ser feita não é o que vem a ser Jornalismo Público, mas para que o Jornalismo serve. Então, uma das respostas mais plausíveis é a de que ele serve para servir. Ao que se pode acrescentar: servir a quem? A quais interesses? E a resposta mais pura e honesta seria: servir ao público, servir ao cidadão, servir à sociedade.


O ideal, portanto, seria que todas as editorias cumprissem tal dever. Associar ou reduzir o Jornalismo Público a determinadas editorias é prescindir de sua real função social. O Jornalismo político deve ser público, bem como o econômico, como o cultural e o esportivo podem ser, e a ciência é outro assunto público que afeta as vidas das pessoas. Um jornalismo que não é público, não serve para nada, a não ser preencher espaços.


Mais do que isso, para Coelho Filho (2008) o jornalismo que não tem caráter público serve para aliviar a consciência dos jornalistas (ele se refere aos de televisão) quando vêem, ao final do dia, que tudo saiu igual em todas as emissoras. Accardo APUD Coelho Filho, afirma que “os jornalistas agem de forma orquestrada sem necessidade de se orquestrarem; sua identidade de inspiração torna desnecessária a conspiração."


A televisão, que é um dos meios de maior penetração, se rendeu ao “showrnalismo”, descrito por Arbex. Vender imagens é o que mais conta nos telejornais. Para interromper esse espetáculo da orquestra sem regente, de acordo com Coelho Filho:


“a proposta do Telejornalismo público da TV Cultura passa a ser uma alternativa de informação para a sociedade. Como não existe jornalismo imparcial no Brasil, e em nenhuma parte do mundo, a emissora assumiu de maneira deliberadamente parcial sua vocação: o interesse público regido pela ética do cidadão. Decisão possível, tendo em vista a compreensão de que qualquer pauta jornalística é fruto de uma ação subjetiva, pois parte de um pressuposto editorial, de um viés ideológico, ou mesmo de um histórico de vida de quem a produz” (2008).


Na TV Cultura definiu-se que:


“As histórias públicas são aquelas que superam os interesses privados, mercadológicos e partidários. Histórias que digam respeito à vida (meio ambiente, ciência e tecnologia), ao desenvolvimento da cidadania (políticas públicas, prestação de serviço etc.) e ao enriquecimento cultural dos brasileiros (divulgação e discussão das culturas de valor). O fetiche do "furo" cede lugar à cobertura regular, aprofundada, purgada do interesse espasmódico. Livre das amarras da estandardização, o jornalismo deve se voltar para o conhecimento e reengendrar as hoje esgarçadas relações com a universidade e fontes autônomas de saber” (2008).


O resultado dessa experiência é o inevitável ajuste do formato que predomina a maior parte dos telejornais brasileiros. A inclusão da reflexão nas reportagens, em detrimento do “show” de imagens, e contar uma história como ela se apresenta torna o programa mais longo. E a idéia é justamente diminuir o número de notícias para investir em reportagens. Para a nova filosofia de jornalismo da emissora mais vale uma história bem contada do que dezenas de notícias superficiais.


Face ao exposto pelos teóricos, podemos concluir que Jornalismo Público não é, de fato, uma editoria, mas um conceito inerente ao próprio jornalismo. Sem esse conceito, fica reduzido ao aspecto comercial e efêmero, não cumpre o papel ao qual se propõe e tem sua consciência arranhada pelos interesses mercadológicos. Jornalismo Público é aquele que faz o cidadão ser uma pessoa informada e esclarecida sobre qualquer assunto.


Se alguém vai a um jogo de futebol, não quer saber apenas a escalação dos times, também quer saber onde adquirir os ingressos, onde estacionar, quais vias serão interditadas, história dos clubes envolvidos, se algum dos jogadores que estarão em campo está perto de assumir a artilharia, a relevância daquela partida para o campeonato, o que pode acontecer em caso de vitória ou derrota de seu time, etc. Enfim, quem recebe a notícia quer saber tudo o que for puder sobre aquele evento.


O mesmo ocorre com outras áreas. Informação superficial pode ser encontrada com os amigos, no bar da esquina ou no tipo de jornalismo que se encontra por aí. O maior desafio é estar no ponto de equilíbrio entre o jornalismo chapa-branca que alguns veículos promovem e o jornalismo de espetáculo, em que a imagem é tudo. Jornalismo Público, nada mais é que um jornalismo feito com qualidade; não apenas técnica, mas estrutural. É uma alternativa à mesmice dos dias atuais e mais que jornalismo do Terceiro Setor: é a terceira via da informação.

Bibliografia
COELHO FILHO, Marco Antônio. A alternativa do jornalismo público. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/qtv 050920001.htm>, acesso em 19 set 2008.
FREIRE, Alexandre. Jornalismo público, "publijornalismo" e cidadania. Disponível em: , acesso em 20 set 2008.
MARTINS DA SILVA, Luiz. Jornalismo público: o social como valor-notícia. Disponível em: <>, acesso em 23, set 2008.

14 de setembro de 2008

Talento na voz, trabalho nas mãos

Foto: Divulgação

Ela surgiu em um programa de calouros, dividia a atenção com seu antigo parceiro de dupla, Rinaldo, mas agora já trabalha na divulgação de seu primeiro trabalho solo, Heaven’s Eyes (Habanero Music), e começa a escolher o repertório para o próximo CD, ainda sem data para ser lançado. O estilo “lírico-pop” da cantora Liriel Domiciano ainda é algo novo, mas ela tem trabalhado com empenho para que essa vertente da música erudita conquiste maior espaço dentro do cenário musical brasileiro.

Depois de surgir no programa de Raul Gil, Rinaldo & Liriel gravaram dois CD’s pela Warner. O primeiro, “Romance”, vendeu mais de 500.000 cópias. Juntamente com o trabalho seguinte, “Tempo de Amar”, rendeu uma série de apresentações por todo o Brasil. Terminado o contrato, surgiu uma oportunidade para Rinaldo continuar a carreira com outra gravadora. Isso deu a Raquel Domiciano Pereira, seu nome de batismo, a oportunidade de executar seus planos pessoais.

Em 2004 ela foi para os EUA, onde teve oportunidade de aprimorar o canto e se apresentar para o maior público fora do Brasil, “70.000 pessoas sentadas”, ressalta a soprano, ocasião em que cantou ao lado do Coro do Tabernáculo Mórmon. Aqui ela já havia se apresentado para o mesmo número de pessoas, mas foi durante um evento religioso realizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo.

Suas apresentações na terra do Tio Sam foram transmitidas para mais de 30.000 pessoas espalhadas por 176 países. Assim, ela ficou mais conhecida na Europa, para onde viajou em 2005. O velho continente foi o palco inspirador para Heaven’s Eyes (2006), que traz uma versão de “Monte Castelo”, famosa na voz de Renato Russo. Porém, mais do que fama, Liriel quer desempenhar um papel social por meio da música.

De shows realizados na Baixada Santista, materiais terapêuticos para deficientes físicos foram adquiridos e doados para instituições. Além disso, Liriel tem outro projeto a ser cumprido. Ela quer formar uma escola de música gratuita para capacitar jovens que queiram prosseguir os estudos musicais em nível superior. Ela tem participado de campanhas do governo e cedido sua imagem para influenciar positivamente o público. Sem dúvida, é uma musicista com um olhar sustenido em relação ao mundo que a cerca.

A seguir, ela conversa com Carta 13 sobre seu trabalho atual, as dificuldades de se fazer música erudita no Brasil e os frutos que ela já colheu deste campo ainda pouco cultivado em terras tupiniquins.

Carta 13: Além da divulgação do álbum Heaven’s Eyes, o que você tem feito?

Liriel: Estamos trabalhando na produção de um DVD que contém alguns trechos das gravações do novo álbum, da visita que fiz à República Tcheca, Hollywood, etc. É mais ou menos um making of do novo trabalho.

Além disso, temos trabalhado em conjunto com o Ministério da Cultura para difundir a música clássica no Brasil, especialmente o canto lírico-pop, do qual sou uma representante.

C13: O novo CD já superou os trabalhos anteriores? Quais são as vantagens e os obstáculos de se trabalhar com uma gravadora independente?


Liriel: Sim, já. Heaven’s Eyes ultrapassou a marca de 30.000 cópias. Claro que com a gravadora anterior (Warner) o trabalho de divulgação era mais consistente, até mesmo pela estrutura que há, talvez seja essa a maior dificuldade de um trabalho independente, mas isso tudo será superado.

Nosso trabalho está apenas no início. A gravadora ainda é nova. Na verdade, eles apostaram em mim, pois a Habanero Produções foi criada especialmente para divulgar meu trabalho. Temos algumas dificuldades que todas as gravadoras enfrentam, mas estou certa de que avançaremos.
Com relação aos pontos positivos, hoje me sinto livre para fazer as coisas do jeito que quero.


A capa do CD foi como eu queria; bem como a escolha do repertório, o tipo de apresentações, os locais, enfim; isso tudo era controlado pelo contrato anterior. Hoje eu tenho mais arbítrio de minhas decisões.

C13: As dificuldades às quais você se refere incluiriam os free downloads? O que pensa sobre isso?


Liriel: Certamente. As gravadoras ainda não se adaptaram bem a essa nova realidade aqui no Brasil. Muitos projetos foram deixados de lado. Na Europa já é um processo mais consolidado.

O maior desafio que se enfrenta nesse campo é a pirataria. A nossa produção está estudando formas de usar as novas tecnologias a nosso favor e em benefício dos fãs.

C13: Você descobriu a música ainda muito jovem, por que a música lírica?


Liriel: Foi amor à primeira vista. (risos) Eu escolhi seguir esse estilo por volta dos 16 anos, o que foi ótimo para mim, pois só se inicia uma carreira como cantora lírica aos 18 anos, o que me deu tempo para me aprimorar.

Cheguei a desenvolver outros estilos, mas achava mais difícil cantar música popular. O erudito era algo natural para mim. Quando era pequena, minha mãe comprava discos de vinil de Mozart, Beethoven e outros clássicos.

Eu brincava com as músicas, como qualquer criança faz. Assim descobri que tinha facilidade para um tipo de música diferente. É algo raro, que decidi explorar.

C13: Como seu trabalho é visto dentro e fora do país?


Liriel: No Brasil ainda precisamos avançar mais nessa área musical, mas é um processo longo. Eu estive nos EUA, República Tcheca, Inglaterra, Hungria, etc.

Lá as coisas andam naturalmente. Recebo e-mails de pessoas do Canadá, da Bélgica, Alemanha, todos perguntando como se faz para comprar o CD, sobre apresentações no exterior. Aqui ainda falta difundir mais a cultura da música clássica, mas é um trabalho a longo prazo.

C13: O que falta para criar essa cultura musical mais refinada no Brasil?


Liriel: Faltam mais pessoas especializadas em música, pessoas com conhecimento. Isso leva tempo. É preciso trabalhar com os jovens, formar mais professores, difundir a música desde os primeiros anos até o nível superior. Temos alguns projetos nesse sentido.

C13: Você se formou pela Universidade Livre de Música (ULM), há planos de se tornar uma professora, a fim de dar a sua contribuição nesse sentido?


Liriel: Claro. Porém, quero ir além. Temos um projeto para formar escolas livres de música onde as crianças poderão ter contato mais próximo com o canto, instrumentos musicais e possam ser pessoas melhores por meio da música. Isso ainda é apenas um projeto, tem de ser pensado e bem planejado para que tenha um bom resultado.

C13: Você se sente uma pioneira?


Liriel: Sim. Eu fui a primeira cantora romântica clássica do Brasil. Nesse sentido, também posso afirmar que Heaven’s Eyes é uma referência mundial para a música erudita que pode ser feita aqui.

Há quem diga que o brasileiro é burro, ignorante, que não pode fazer um bom trabalho aqui. Ao olhar a capa do CD e ouvir as suas faixas, qualquer estrangeiro vai dizer que está no mesmo patamar de outros nomes de peso, como Andrea Bocceli, Luciano Pavarotti, etc.

Não falo isso com ostentação, não. Não é por glamour tampouco. Falo isso porque tenho orgulho de ser brasileira, e por fazer música erudita aqui em nosso país. Apesar de toda a dificuldade da vida de um músico, vale a pena lutar por isso. Sei que os frutos virão. Os frutos virão!

C13: Que dica você deixa aos iniciantes?


Liriel: A vida do artista é meio complicada. Há fases em que você fica mais exposto na mídia e há aquelas em que você fica esquecido. Talvez, a palavra chave para tudo seja a persistência. Eu busco a cada dia me aperfeiçoar.

Quero ser uma artista completa, pois isso é um diferencial. É preciso se especializar, exercer a tolerância, paciência e esperar o momento certo. Ele sempre chega!

6 de setembro de 2008

Papel do jornalista no século XXI

Servir o melhor prato: esse é o nosso papel!

Não se pode falar em papel do jornalismo no século XXI. Possível, sim, é explanar as maneiras ou métodos que o jornalismo deve adotar para continuar cumprindo o seu papel, que não se altera nunca. O papel do jornalismo continua a ser o mesmo dos séculos anteriores. Papel este definido da seguinte maneira por Dines:

“O jornal é o fragmento da história e da memória de um país (...). O homem se informa para sobreviver. A sobrevivência física, pura e simples foi buscando formas mais sutis, podendo-se hoje dizer que um indivíduo não integrado no seu ambiente e no seu tempo está morto para a sociedade. A ignorância de certos fatos da vida contemporânea pode ser fatal para um cidadão” (1986).

É claro que na Era Digital alguns ajustes devem existir para que o jornalista continue sua atuação. Da mesma forma que o rádio e, depois, a TV modificaram o fazer jornalístico, o advento da Internet trouxe mudanças. Verdade que são maiores e mais significativas, porém, o papel do jornalista continua sendo o mesmo. De acordo com o raciocínio de Aroso (2008), o jornalista, mais do que em qualquer outro tempo, é um mediador – papel que deve ser recuperado.


Uma vez que o volume de informações é gigantesco, cabe ao jornalista o papel de selecionar o conteúdo que interessa ao seu público, interpretar o fato e expô-lo de forma palatável à audiência. Isso não significa que ele atuará como gatekeeper, em seu sentido mais tradicional, mas que o jornalista do século XXI, por assim dizer, terá papel decisivo para uma prática jornalística de mediação discursiva.


Em um mundo sobrecarregado de informações, que aparecem de forma igual nos meios, se destacará o veículo que explicar melhor a notícia. Pode-se comparar a notícia a um determinado alimento disponível em vários restaurantes; o tratamento e preparo do alimento, condimentos usados, estética do prato e o bom atendimento farão toda a diferença para determinar o maior sucesso de um em relação ao outro.

Chaparro aprofunda a complexidade do trabalho deste chef da notícia que é o jornalista da seguinte maneira:

“(...) Nessa nova realidade, fontes e meios praticam uma cooperação de recíproca conveniência: os jornalistas das redações escrevem cada vez mais sobre fatos que não observaram e sobre assuntos de que não entendem – precisam de bons informantes e intérpretes da realidade; as fontes empresariais e institucionais, geradoras de fatos e atos de relevância social, e detentoras da capacidade de explicá-los, não sobrevivem sem a comunicação com os ambientes externos – precisam dos meios” (1994).

Por isso o profissional do novo século deve ser mais cauteloso ao elaborar seu trabalho, ou de outra maneira alterará (aí sim) o seu papel. Medina (1988) chama a atenção para o fato de que a ampliação da notícia, que é a reportagem, corresponde a uma interpretação dos fatos, e, para ela, essa é uma tendência da imprensa mundial.


O papel do jornalista, portanto, não mudou. O que ele tem de fazer é encontrar maneiras criativas de continuar desempenhando o que tem por dever: informar e servir como mediador. Imprescindível para tal tarefa é o conhecimento de áreas específicas de atuação, constante atualização e ética, que deveria ser o fio condutor de toda atividade profissional.


Bibliografia

AROSO, Inês Mendes Moreira. A Internet e o novo papel do jornalista. Disponível em: Acesso em 03. set. 2008.
CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do Jornalismo: Buscas páticas para uma teoria da ação jornalística. São Paulo, Summus, 1994.
DINES, Alberto. O papel do jornal. São Paulo, Summus, 1996.
MEDINA, Cremilda. Notícia, um produto à venda: Jornalismo na Sociedade Urbana e Industrial. São Paulo, Summus, 1988.