11 de outubro de 2005

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QUANDO A NOTA VEM ANTES DA PROVA

Dia de prova é uma loucura! Mas pior que o dia de prova é a noite que antecede uma prova. O aluno não dorme direito, não come direito, não namora direito, não respira direito. Argh! Quanto estresse acumulado! Nada que não se resolva com uma farta alimentação.
Na manhã da prova, antes de sair, o Camilo se alimentou bem. Tão bem que teve de segurar os gases que se formavam nos intestinos, tanto no fino quanto no grosso. Para não ser grosso, segurou-os o máximo que pôde, mesmo com os buracos das ruas, que faziam o ônibus balançar violentamente. Ao saltar, sentiu um alívio imenso por terem enfim saído – ele, do coletivo; os gases, de seu corpo suado.
Mas mais suado estava quando entrou no 4o andar da escola. Seu suor não era proveniente, apenas, de sua caminhada. Seu desjejum havia sido um tanto quente, por isso o seu corpo parecia queimando por dentro. Ele ainda tinha 10 minutos antes da prova; tempo suficiente para uma visita ao banheiro. Precisava eliminar a causa daquele suadouro.
Banheiro de escola sempre tem muitos vasos sanitários. Alguns se encontram sujos quando mais se precisa deles; porém, se procurar, pode-se encontrar uma bacia limpa o bastante para servir de trono ao soberano homem apertado. Camilo encontrou a sua. Feliz, sentou-se rapidamente, despejando a matéria inútil, como um canhão de pólvora velho.
Limpou-se com um papel ruim, áspero feito lixa! Fazer o quê? Mas sentia-se aliviado por haver, enfim, eliminado a fonte de tantas bufas fedorentas. Pensava já na prova. Estava na hora.
Ao tentar abrir a porta se surpreendeu. O trinco estava emperrado. Fechou quando ele entrou, rodou em falso ao tentar abrir. Com isso, não podia dali sair. O quê fazer?
Olhou por baixo das divisórias dos sanitários a fim de saber se estava só no banheiro. Para sua tristeza, havia muitos pés nas divisões ao lado. Alguns tinham as calças arriadas; outros, curiosamente, pareciam não estar sozinhos. Mas isso não era sua maior preocupação. Estava dois minutos além do horário da prova e a professora não costuma admitir retardatários na sala.
Ouviu o som das torneiras se abrindo e fechando. Percebeu que os primeiros pés estavam agora de saída, mas outros entraram. O entra-e-sai não parava, cansava-lhe. Estava com a mesma sensação entediante que sentiu na via expressa que levava à escola, o trânsito não fluíra bem. Mas estava em um banheiro escolar.
Por fim, os pés deixaram o banheiro, em direção às suas salas. Camilo olhou novamente por debaixo das placas que dividiam os espaços. Não viu pé algum. Nove minutos eram passados. Estava na hora de colocar seu plano em ação. Abaixou a tampa do assento, subiu na divisória e tentou sair por cima. Porém, perdeu o equilíbrio e caiu no box ao lado, com um dos pés dentro do vaso. Grito de nojo! A água parecia um tanto turva, mas a bacia era branca. Contudo, a porta ao lado estava aberta e Camilo conseguiu sair.
Tentou secar os pés, com pouco sucesso, lavou as mãos e correu para a sala de aula. Estava com 17 minutos de atraso. A professora, com aquela cara, perguntou-lhe o motivo do atraso. A classe toda parou para ouvir sua justificativa, inclusive Eduarda, sua namorada. Camilo se esforçou para dizer algo sensato, óbvio e que não levantasse suspeita sobre a verdadeira causa do seu atraso. Lembrou-se do corre-corre dentro do banheiro e sua situação de incômoda ali. Já sabia o que dizer. ‘‘Estava preso no trânsito, professora!’’ – disse. Foi-lhe permitida a entrada na sala; sentou-se, iniciou a prova e pensou: por tudo o que passei, mereço um 10!

2 comentários:

Anônimo disse...

tá parecendo a história do válter, isso sim...

Anônimo disse...

caramba, canhão véio eh embaçado